27 de fevereiro de 2009

de chuvas e abismos

apostei comigo mesma por quanto tempo eu aguentaria definhando aqui. teu amor é veneno eficaz que mata aos poucos. acho que já se passaram algumas horas. ou seriam dias? não sei, nem os relógios quiseram assistir ao meu suicídio lento. mas eu não me importo de estar perdida no tempo, enquanto tenho migalhas da sua carne ainda fresca para saciar a minha fome. fome de quem vive o último dia. dia ou noite?
agora pouco Deus quis falar comigo, mas eu nem dei ouvidos. não quero diálogo com ninguém. não quero ouvir ruído nenhum. só o da chuva gelada que ainda vem me fazer companhia e o riso rouco de louca que sai da minha garganta.

22 de fevereiro de 2009

pra você eu digo sim

então vamos sair gritando na inconsequência pelas ruas. arriscar a vida e ignorar o risco da perda; só teremos um ao outro. fazer da inocência perdida só para procurá-la no escuro mais tarde. deixar secar desejos no varal do pecado, como roupas que secam numa tarde ensolarada. e molhar. secar. molhar de novo. secar de novo. fazer do desconhecido conhecido. tornar possível o impossível. o que é impossível?
cortejar a nossa insanidade. derramar sangue bebível sobre o vazio branco. beber. cair na estrada do acaso à la road movie. ir até o infinito e voltar duas, três ou quantas vezes você quiser. tomar chuva gelada e gripar no dia seguinte. dormir sob o sol e amanhacer sobre a lua. desafinar seis, sete ou doze cordas mais e dançar somente ao ritmo da nossa música. tudo aquilo que a gente sempre quis. tudo e um pouco mais.

porque eu posso esperar por toda a eternidade se você não demorar demais.

21 de fevereiro de 2009

é que hoje o dia insistiu mesmo em nascer

e nasceu.

então eu pintei unhas e paredes de vermelho
vermelho do meu sangue e branco da tua palavra não dita.
agora as minhas mãos espalmadas estão sujas, belas e sujas

- e é somente por sua causa que eu odeio cada centímetro da minha pele toda vez que me perco no labirinto do teu coração.

'keep on calling me, they keep calling me'
Joy Division - Dead Souls

13 de fevereiro de 2009

fale, Leminski

já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo

morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma
morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma

Paulo Leminski

9 de fevereiro de 2009

dead souls

eles estão me chamando agora. espíritos no meu quarto. desde que você se foi, eles ocupam o leito ao meu lado e escutam os meus infinitos gritos todas as noites. mas sabe, meu amor, eles são tão frios quanto aqueles abraços congelados que você me dava. e aquela nuvem escura carregada de mágoas vai desabar sobre a minha cabeça a qualquer distração. eu sei que vou precisar de calor pra me secar depois. mas não do seu. não dessa vez.
há uma semana eu me refugiava nos seus braços. hoje eu acordo numa xícara amarga de café. a vida não é mais doce, nem o café melado de elogios das nossas manhãs. antes eu lotava páginas com a minha caligrafia desleixada. agora você só me deixou alguns poucos motivos para escrever. antes eu tinha sonhos nítidos e coloridos. agora a insônia me visita todas as noites em tons de cinza, preto e branco.
o mundo pode acabar daqui a 3 anos, 3 meses, 3 semanas, que eu não vou ligar; o meu já caiu há tempos.

3 de fevereiro de 2009

já decidi.
vou me refazer. renascer das cinzas queimadas de um fogo há muito apagado.
hoje eu me peguei parada diante dos teus retratos gritando tudo aquilo que queria que você ouvisse no dia em que se foi levando consigo parte do meu coração escancarado de inocência.
depois eu vou queimar todos aqueles teus discos que eu tanto critiquei, um a um, e berrar o que ainda resta incontido de mim aqui dentro.eu vou arrancar todas as minhas unhas, uma a uma, assim como você fez com os meus sonhos, um a um, manualmente. eu vou juntar os cacos da minha alma.
eu sei, pode até não adiantar. eu sei, pode até ser que eu me levante em silêncio, mas o temporal vai continuar sobre mim, fora ou dentro, aqui ou lá, cinzento e discreto.
então deixa pra amanhã. que hoje eu ainda não tomei minha dose de você.

1 de fevereiro de 2009

the jesus and mary chain - just like honey

vermelho vivo

eu não quero acordar, mas o sol já bate no meu rosto. é que hoje sonhei contigo e ainda tenho sentimentos traduzidos em imagens tuas na minha cabeça. tenho a impressão de que num simples abrir e fechar de olhos, elas vão se dissipar e se perder no emaranhado de nostalgia do meu quarto.
você sempre soube, meu amor, que eu sou de exageros. quando amo, amo demais. quando sofro, sofro demais. já tranquei meu coração numa gaveta às tantas chaves. agora ele é só um músculo. um músculo que bate, não sente; sangra. bate porque tem que bater e não sei quando vai parar de transbordar. vermelho vivo.
você é um mal incurável. mas é meu mal.
e eu sou só uma ferida aberta e exposta ao sol ardido dessa manhã de domingo. carne viva.